sábado, 20 de fevereiro de 2010

GATOS

Adoro gatos! São discretos, silenciosos em sua elegância. Jamais você verá um gato implorando comida com os olhos. Ele se enrolará em suas pernas e ficará atento aos seus movimentos na espera por uma doação ou um descuido para obter o que quer.
Alguns afirmam que eles são traiçoeiros e gostam da casa, somente. Provavelmente são pessoas que nunca tiveram gatos e gatas em suas casas. Tive uma gata de rua/sem raça definida (SRD) – aprendi a denominação e a sigla com um veterinário - criada em apartamento e para ela e suas peripécias fiz este poema:

POEMA DA GATA DE RUA

I

Minha gata se deita

Frente a janela

Do apartamento

E olha

Passarinhos e insetos

Que circulam

Além do seu alcance

Ela me olha

E eu a ela

É obvio

Não nos entendemos

Mas para além da janela

Fica a vida toda

Minha e dela


De repente

Um barulho na varanda

Penas no ar

Ela trouxe o mundo para si

A cor violácea

Na cabeça da rolinha

Combina com a tarde morrendo

Ela outra vez me olha

E continuo sem entendê-la.

( horas depois de eu embrulhar

o corpo sem vida do pássaro

e colocar na lata de lixo).

II

Pobre inseto verde

Que adentra a sala

Enquanto olhos

E dilatadas pupilas

Vigiam seu frágil vôo


Talvez

a gata

o único sobrevivente

a poder alcançar

esperança

sem temor

e descrença.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Cult movie: cada um tem o seu?

Cult movies são aqueles filmes que arrastavam multidões aos cinemas várias vezes. Muitos de vocês devem ter perseguido pelo menos algum filme na TV aberta para rever. Mesmo que tenha sido os filmes de Jerry Lewis ( nada contra ele). Qualquer filme pode ser Cult. Mas, em geral, os cults comovem multidões décadas a fio.

Tais filmes talvez estejam em extinção. Muitos deles passavam nas antigas sessões noturnas de TV aberta, tais como Cine Clube (legendados) e Classe A (dublados). Durante a década de 1980 era comum que as madrugadas das quartas-feiras fossem frequentadas por Fred Astaire, Frank Sinatra, enquanto nas madrugadas de domingo via-se de tudo, inclusive Bergman, cinema russo, italiano e muita Hollywood das décadas de 1930-1950.

Com o advento da fita cassete – revolucionária para indústria cinematográfica - levamos o cinema para dentro de casa. Podíamos colecionar ou alugar filmes. Daí para o DVD e as cópias baixadas na rede antes do filme chegar aos cinemas foram alguns anos. A noção de Cult movie permanece ou modifica-se?

Francamente eu nem sei se a indústria cinematográfica ainda criará cult movies. Titanic (1997) de James Cameron talvez tenha sido o último, aliás não faz parte da minha lista. Nos circuitos alternativos de cinema surgem muitos candidatos, mas poucos viram cult. Os cults têm uma característica que destoa da modernidade líquida descrita por Zygmunt Bauman. Atualmente os filmes parecem ser feitos para serem esquecidos e se consumirem mais filmes e produtos ligados a eles, de jogos de vídeo game a roupas.

Durante algum tempo os filmes foram feitos para durar ou serem, no mínimo, inesquecíveis. Sei que diretores e produtores de todo mundo fazem filmes como obras de arte. Mas o cinema como parte da indústria cultural reflete esta fluidez que leva ao consumo; o filme vira uma mercadoria (?). Os cults movies embora ainda possam existir não “arrastam” as multidões, mesmo porque o prazer de sentir-se tocado por algo no escuro do cinema esvai-se.

Restam alguns filmes que são cult: atravessam o tempo amados e revistos, sempre. Você pode ver “E o vento levou. . . ” (1939) e não gostar dele, mas algo o tocará. O filme tem vitalidade e charme. Blade Runner (1982) fracassou nas bilheterias, mas fez uma carreira paralela entre cinéfilos e tornou-se clássico, para quem gosta de ficção científica é um filme extraordinário.

Mas, meu cult não é do cinema colorido. Rebecca (1939), o primeiro de Hitchcock filmado nos EUA, é preto e branco, tem bela fotografia, boa trilha sonora. Envelheceu bem, pois caso você se deixe envolver pelo clima de mistério e leve sensualidade se sentirá nos corredores de Manderley. Verá que o filme envelheceu bem com Laurence Oliver e Joan Fontaine brilhando, notadamente a jovem atriz em início de carreira. Afora Judith Anderson – a governanta de Manderley - uma coaqdjuvante espetacular que quase rouba o filme para ela.

Pertence a categoria dos filmes vistos na TV aberta quando eu tinha por volta de 15 anos. No Cine Clube domingo a noite meu pai sugeriu que assistisse ao filme que estava passando e fez elogios a história. Fiquei encantada com o que vi. Não me perguntem o motivo. Posso escrever mais sobre isso depois.

Antes que eu esqueça: Qual o seu Cult movie?

OBS1: Ganhei de presente de uma amiga (Suzana Magalhães) uma fita cassete de Rebecca (que ainda está comigo) e recentemente ganhei de outra amiga (Lia Bezerra) o DVD original.

OBS2: Dedico este post a meu caríssimo amigo Erasmo Ruiz, grande apreciador de filmes antigos e intelectual raro.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

“Que coisa horrível a felicidade”

“Que coisa horrível a felicidade”

(ouvi esta frase de alguém que talvez acreditasse nela . . .)

Esta frase me soa como charada, como presença de outro tempo.

Gilberto Gil diz:

Quando a gente tá contente
Nem pensar que tá contente
Nem pensar que tá contente a gente quer
Nem pensar a gente quer
A gente quer, a gente quer
A gente quer é viver. . .

Eu digo:

Desejo “desejar viver” pela vida afora. Gostar do caminho, tanto quanto do fim da viagem. Inspirar mesmo com pouca fé e com todo o medo. Ter coragem ou não precisar tanto dela. Desejo apreciar um bom café ou um sabor diferente. Gostar de um novo perfume. Conversar mais com meus amigos e minhas amigas. Rir mais, viajar mais. Ser mais generosa. Ouvir mais João Gilberto. Dançar. Ver o mar e filmes no cinema comendo pipoca. Quero coisas simples este ano e começar a conquistar coisas bem difíceis. E mais que tudo: ter a quem amar, sempre.

(Dedico este post a Jorge Luis Borges. . . quem conhece a sua poesia sabe o motivo)