segunda-feira, 2 de agosto de 2010

ENSAIO DE CONTO VERSÃO 2*

Demorou. Foram dias desmedidos com uma dor só possível aos puros. Dias únicos. Impossível descrever com exatidão de onde vinha a dor. Ele não a amava. Nunca se deixava ficar no território sagrado da paixão. Desdenhava do amor. A moça sofreu. Nada sabia do amor além de senti-lo e como doía. Não era gozo ou sexo. Daí o inexplicável. Ela permaneceu amando e vivendo. Um dia percebeu que amara em demasia a possibilidade do amor. Os detalhes esquecidos eram tão intensos, quanto os jamais esquecidos. Neste dia ela perdoou. Soube que deixar de amar doía tanto quanto amar demais. Era uma junção de abandono de si com um conto de Clarice Lispector. A dor fundamental diante da pergunta: “Afinal o que foi que você viu nele?”  a mulher via naquilo sua pureza antiga. Viu sua própria pureza: sua alma quando andava nua.   



*ensaio de um conto foi publicado no blog em maio/2010

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