sábado, 7 de agosto de 2010

A NOITE



Inatuais esperanças
A perene lua
Estrelinhas cadentes
Perseguidas
Por milhares de pedidos
Apressados.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

ENSAIO DE CONTO VERSÃO 2*

Demorou. Foram dias desmedidos com uma dor só possível aos puros. Dias únicos. Impossível descrever com exatidão de onde vinha a dor. Ele não a amava. Nunca se deixava ficar no território sagrado da paixão. Desdenhava do amor. A moça sofreu. Nada sabia do amor além de senti-lo e como doía. Não era gozo ou sexo. Daí o inexplicável. Ela permaneceu amando e vivendo. Um dia percebeu que amara em demasia a possibilidade do amor. Os detalhes esquecidos eram tão intensos, quanto os jamais esquecidos. Neste dia ela perdoou. Soube que deixar de amar doía tanto quanto amar demais. Era uma junção de abandono de si com um conto de Clarice Lispector. A dor fundamental diante da pergunta: “Afinal o que foi que você viu nele?”  a mulher via naquilo sua pureza antiga. Viu sua própria pureza: sua alma quando andava nua.   



*ensaio de um conto foi publicado no blog em maio/2010

DE VOLTA A REDE

Gente, enviando mil vibrações e bençãos de Deus sobre vocês. Estou de volta.

Gracias a la vida
Violeta Parra


Gracias a la vida que me ha dado tanto
me dio dos luceros que cuando los abro
perfecto distingo lo negro del blanco
y en el alto cielo su fondo estrellado
y en las multitudes el hombre que yo amo

Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado el oído que en todo su ancho
graba noche y día grillos y canarios
martillos, turbinas, ladridos, chubascos
y la voz tan tierna de mi bien amado

Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado el sonido y el abecedario
con él, las palabras que pienso y declaro
madre, amigo, hermano
y luz alumbrando la ruta del alma del que estoy amando

Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado la marcha de mis pies cansados
con ellos anduve ciudades y charcos
playas y desiertos, montañas y llanos
y la casa tuya, tu calle y tu patio

Gracias a la vida que me ha dado tanto
me dio el corazón que agita su marco
cuando miro el fruto del cerebro humano
cuando miro el bueno tan lejos del malo
cuando miro el fondo de tus ojos claros

Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado la risa y me ha dado el llanto
así yo distingo dicha de quebranto
los dos materiales que forman mi canto
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos que es mi propio canto

Gracias a la vida, gracias a la vida


Vejam o vídeo co Mercedes Sosa

quinta-feira, 13 de maio de 2010

ENSAIO DE CONTO

Memória e esquecimento



Demorou. Foram dias desmedidos com uma dor só possível aos puros. Dias únicos. Impossível descrever com exatidão de onde vinha a dor. Ele não a amava. Nunca se deixava ficar no território sagrado da paixão. Desdenhava do amor. A moça sofreu. Nada sabia do amor além de senti-lo e como doía. Não era gozo ou sexo. Daí o inexplicável. Ela permaneceu amando e vivendo. Um dia percebeu que amara em demasia a possibilidade do amor. Os detalhes esquecidos eram tão intensos, quanto os jamais esquecidos. Neste dia ela perdoou.

terça-feira, 4 de maio de 2010

NÃO É UM BOI VENDO OS HOMENS

Olhos abertos

quatro da manhã

O mundo

Parecia dormir

Cheiro de café

Domina o ar

Cortado por ônibus

corrente sem fim

tantos  ritos

Despertador, preguiça

Água, dentrifício

Pente

café e hortelã

Se misturam no céu da boca

Por segundos

Buzinas aumentam

seis horas

Longe o prefixo da emissora

O prédio começa a pulsar

Talheres, copos

Vozes

Liquidificadores

( e mais cheiro de café)

Bater de portas

janelas

Há sol

( o que estarão fazendo os índios?)

Mais água corrente

Batom , perfume

Lâminas de gillete

Aromas

Travesseiros e guarda roupas

Potes de café

Digitais e significados

Não é um boi

Que vê os homens.





Voltando a postar material, perdoem a demora!

sábado, 27 de março de 2010

POEMAS PARA CRIANÇAS

Escrevo poemas desde que tinha 11 anos de idade. Como todos os primeiros poemas eram toscos... sofríveis, mesmo. Mas segui escrevendo. As vezes a musa me visita e faço coisas sutis como este poema para crianças:
  

A LAGARTINHA


Lara

É uma lagarta pintada

Nascida

Em Pindamonhangaba

Tão distraída

Que Mara e Eulália

Suas irmãs

Gritam de tarde

E, às vezes, de manhã

___ Lara o que você espera sentada?

A lagartinha nem ouve

Fica lá

Espreitando o arco-íris

Sonhando em ser lilás

Rosa ou anis.



LARA, A LAGARTINHA


Lara,

A lagartinha

Não tinha patinhas

Tinha pintas verdes

E não amarelas

A lagartinha

Era diferente

De toda gente

- gente lagarta –

E ela nem ligava

Adorava

As pintas verdinhas

E se arrastar por aí

Feliz

Por ser diferente

E assustar a toda gente

Gente lagarta



Obs:
Dedico este post a minha amiga Lara Macário . . . uma menina para lá de especial que mora no meu coração.

terça-feira, 2 de março de 2010

Nossa... saudade

O post de hoje  vai (rasgadamente) para um grupo de mulheres aprendizes e professoras. Uso as palavras de Fátima Guedes (com algumas licenças poéticas) para enviar um abraço para elas:

“Estrela não tem luz própria,
quase ninguém sabe disso.
Eu sinto muita saudade do brilho dos(das) meus(minhas)  amigos(amigas).
Sinto tanta falta de você(S)”

OBS.  Fátima Guedes é uma jóia brasileira:  boa cantora, excelente compositora. Bem jovem já compunha canções densas,  musical e poeticamente falando. Gosto particularmente de seus primeiros discos e de um chamado “Pra bom entendedor. . .”( gravado na década de 1990 pelo extinto selo Velas). Ela está esplendorosa como intérprete. . . a maturidade fez dela uma artista de raro talento. Como diria Vinícius: “Benção Fátima Guedes!”

sábado, 20 de fevereiro de 2010

GATOS

Adoro gatos! São discretos, silenciosos em sua elegância. Jamais você verá um gato implorando comida com os olhos. Ele se enrolará em suas pernas e ficará atento aos seus movimentos na espera por uma doação ou um descuido para obter o que quer.
Alguns afirmam que eles são traiçoeiros e gostam da casa, somente. Provavelmente são pessoas que nunca tiveram gatos e gatas em suas casas. Tive uma gata de rua/sem raça definida (SRD) – aprendi a denominação e a sigla com um veterinário - criada em apartamento e para ela e suas peripécias fiz este poema:

POEMA DA GATA DE RUA

I

Minha gata se deita

Frente a janela

Do apartamento

E olha

Passarinhos e insetos

Que circulam

Além do seu alcance

Ela me olha

E eu a ela

É obvio

Não nos entendemos

Mas para além da janela

Fica a vida toda

Minha e dela


De repente

Um barulho na varanda

Penas no ar

Ela trouxe o mundo para si

A cor violácea

Na cabeça da rolinha

Combina com a tarde morrendo

Ela outra vez me olha

E continuo sem entendê-la.

( horas depois de eu embrulhar

o corpo sem vida do pássaro

e colocar na lata de lixo).

II

Pobre inseto verde

Que adentra a sala

Enquanto olhos

E dilatadas pupilas

Vigiam seu frágil vôo


Talvez

a gata

o único sobrevivente

a poder alcançar

esperança

sem temor

e descrença.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Cult movie: cada um tem o seu?

Cult movies são aqueles filmes que arrastavam multidões aos cinemas várias vezes. Muitos de vocês devem ter perseguido pelo menos algum filme na TV aberta para rever. Mesmo que tenha sido os filmes de Jerry Lewis ( nada contra ele). Qualquer filme pode ser Cult. Mas, em geral, os cults comovem multidões décadas a fio.

Tais filmes talvez estejam em extinção. Muitos deles passavam nas antigas sessões noturnas de TV aberta, tais como Cine Clube (legendados) e Classe A (dublados). Durante a década de 1980 era comum que as madrugadas das quartas-feiras fossem frequentadas por Fred Astaire, Frank Sinatra, enquanto nas madrugadas de domingo via-se de tudo, inclusive Bergman, cinema russo, italiano e muita Hollywood das décadas de 1930-1950.

Com o advento da fita cassete – revolucionária para indústria cinematográfica - levamos o cinema para dentro de casa. Podíamos colecionar ou alugar filmes. Daí para o DVD e as cópias baixadas na rede antes do filme chegar aos cinemas foram alguns anos. A noção de Cult movie permanece ou modifica-se?

Francamente eu nem sei se a indústria cinematográfica ainda criará cult movies. Titanic (1997) de James Cameron talvez tenha sido o último, aliás não faz parte da minha lista. Nos circuitos alternativos de cinema surgem muitos candidatos, mas poucos viram cult. Os cults têm uma característica que destoa da modernidade líquida descrita por Zygmunt Bauman. Atualmente os filmes parecem ser feitos para serem esquecidos e se consumirem mais filmes e produtos ligados a eles, de jogos de vídeo game a roupas.

Durante algum tempo os filmes foram feitos para durar ou serem, no mínimo, inesquecíveis. Sei que diretores e produtores de todo mundo fazem filmes como obras de arte. Mas o cinema como parte da indústria cultural reflete esta fluidez que leva ao consumo; o filme vira uma mercadoria (?). Os cults movies embora ainda possam existir não “arrastam” as multidões, mesmo porque o prazer de sentir-se tocado por algo no escuro do cinema esvai-se.

Restam alguns filmes que são cult: atravessam o tempo amados e revistos, sempre. Você pode ver “E o vento levou. . . ” (1939) e não gostar dele, mas algo o tocará. O filme tem vitalidade e charme. Blade Runner (1982) fracassou nas bilheterias, mas fez uma carreira paralela entre cinéfilos e tornou-se clássico, para quem gosta de ficção científica é um filme extraordinário.

Mas, meu cult não é do cinema colorido. Rebecca (1939), o primeiro de Hitchcock filmado nos EUA, é preto e branco, tem bela fotografia, boa trilha sonora. Envelheceu bem, pois caso você se deixe envolver pelo clima de mistério e leve sensualidade se sentirá nos corredores de Manderley. Verá que o filme envelheceu bem com Laurence Oliver e Joan Fontaine brilhando, notadamente a jovem atriz em início de carreira. Afora Judith Anderson – a governanta de Manderley - uma coaqdjuvante espetacular que quase rouba o filme para ela.

Pertence a categoria dos filmes vistos na TV aberta quando eu tinha por volta de 15 anos. No Cine Clube domingo a noite meu pai sugeriu que assistisse ao filme que estava passando e fez elogios a história. Fiquei encantada com o que vi. Não me perguntem o motivo. Posso escrever mais sobre isso depois.

Antes que eu esqueça: Qual o seu Cult movie?

OBS1: Ganhei de presente de uma amiga (Suzana Magalhães) uma fita cassete de Rebecca (que ainda está comigo) e recentemente ganhei de outra amiga (Lia Bezerra) o DVD original.

OBS2: Dedico este post a meu caríssimo amigo Erasmo Ruiz, grande apreciador de filmes antigos e intelectual raro.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

“Que coisa horrível a felicidade”

“Que coisa horrível a felicidade”

(ouvi esta frase de alguém que talvez acreditasse nela . . .)

Esta frase me soa como charada, como presença de outro tempo.

Gilberto Gil diz:

Quando a gente tá contente
Nem pensar que tá contente
Nem pensar que tá contente a gente quer
Nem pensar a gente quer
A gente quer, a gente quer
A gente quer é viver. . .

Eu digo:

Desejo “desejar viver” pela vida afora. Gostar do caminho, tanto quanto do fim da viagem. Inspirar mesmo com pouca fé e com todo o medo. Ter coragem ou não precisar tanto dela. Desejo apreciar um bom café ou um sabor diferente. Gostar de um novo perfume. Conversar mais com meus amigos e minhas amigas. Rir mais, viajar mais. Ser mais generosa. Ouvir mais João Gilberto. Dançar. Ver o mar e filmes no cinema comendo pipoca. Quero coisas simples este ano e começar a conquistar coisas bem difíceis. E mais que tudo: ter a quem amar, sempre.

(Dedico este post a Jorge Luis Borges. . . quem conhece a sua poesia sabe o motivo)