Demorou. Foram dias desmedidos com uma dor só possível aos puros. Dias únicos. Impossível descrever com exatidão de onde vinha a dor. Ele não a amava. Nunca se deixava ficar no território sagrado da paixão. Desdenhava do amor. A moça sofreu. Nada sabia do amor além de senti-lo e como doía. Não era gozo ou sexo. Daí o inexplicável. Ela permaneceu amando e vivendo. Um dia percebeu que amara em demasia a possibilidade do amor. Os detalhes esquecidos eram tão intensos, quanto os jamais esquecidos. Neste dia ela perdoou. Soube que deixar de amar doía tanto quanto amar demais. Era uma junção de abandono de si com um conto de Clarice Lispector. A dor fundamental diante da pergunta: “Afinal o que foi que você viu nele?” a mulher via naquilo sua pureza antiga. Viu sua própria pureza: sua alma quando andava nua.
*ensaio de um conto foi publicado no blog em maio/2010
Gente, enviando mil vibrações e bençãos de Deus sobre vocês. Estou de volta.
Gracias a la vida
Violeta Parra
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me dio dos luceros que cuando los abro
perfecto distingo lo negro del blanco
y en el alto cielo su fondo estrellado
y en las multitudes el hombre que yo amo
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado el oído que en todo su ancho
graba noche y día grillos y canarios
martillos, turbinas, ladridos, chubascos
y la voz tan tierna de mi bien amado
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado el sonido y el abecedario
con él, las palabras que pienso y declaro
madre, amigo, hermano
y luz alumbrando la ruta del alma del que estoy amando
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado la marcha de mis pies cansados
con ellos anduve ciudades y charcos
playas y desiertos, montañas y llanos
y la casa tuya, tu calle y tu patio
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me dio el corazón que agita su marco
cuando miro el fruto del cerebro humano
cuando miro el bueno tan lejos del malo
cuando miro el fondo de tus ojos claros
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado la risa y me ha dado el llanto
así yo distingo dicha de quebranto
los dos materiales que forman mi canto
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos que es mi propio canto
Demorou. Foram dias desmedidos com uma dor só possível aos puros. Dias únicos. Impossível descrever com exatidão de onde vinha a dor. Ele não a amava. Nunca se deixava ficar no território sagrado da paixão. Desdenhava do amor. A moça sofreu. Nada sabia do amor além de senti-lo e como doía. Não era gozo ou sexo. Daí o inexplicável. Ela permaneceu amando e vivendo. Um dia percebeu que amara em demasia a possibilidade do amor. Os detalhes esquecidos eram tão intensos, quanto os jamais esquecidos. Neste dia ela perdoou.
Escrevo poemas desde que tinha 11 anos de idade. Como todos os primeiros poemas eram toscos... sofríveis, mesmo. Mas segui escrevendo. As vezes a musa me visita e faço coisas sutis como este poema para crianças:
A LAGARTINHA
Lara
É uma lagarta pintada
Nascida
Em Pindamonhangaba
Tão distraída
Que Mara e Eulália
Suas irmãs
Gritam de tarde
E, às vezes, de manhã
___ Lara o que você espera sentada?
A lagartinha nem ouve
Fica lá
Espreitando o arco-íris
Sonhando em ser lilás
Rosa ou anis.
LARA, A LAGARTINHA
Lara,
A lagartinha
Não tinha patinhas
Tinha pintas verdes
E não amarelas
A lagartinha
Era diferente
De toda gente
- gente lagarta –
E ela nem ligava
Adorava
As pintas verdinhas
E se arrastar por aí
Feliz
Por ser diferente
E assustar a toda gente
Gente lagarta
Obs:
Dedico este post a minha amiga Lara Macário . . . uma menina para lá de especial que mora no meu coração.
O post de hoje vai (rasgadamente) para um grupo de mulheres aprendizes e professoras. Uso as palavras de Fátima Guedes (com algumas licenças poéticas) para enviar um abraço para elas:
“Estrela não tem luz própria,
quase ninguém sabe disso.
Eu sinto muita saudade do brilho dos(das) meus(minhas) amigos(amigas).
Sinto tanta falta de você(S)”
OBS. Fátima Guedes é uma jóia brasileira: boa cantora, excelente compositora. Bem jovem já compunha canções densas, musical e poeticamente falando. Gosto particularmente de seus primeiros discos e de um chamado “Pra bom entendedor. . .”( gravado na década de 1990 pelo extinto selo Velas). Ela está esplendorosa como intérprete. . . a maturidade fez dela uma artista de raro talento. Como diria Vinícius: “Benção Fátima Guedes!”
Eu sou Rita. E tem tantas Ritas na Rita; difícil falar de si. Sou professora . . . uma de minhas paixões. Sou pesquisadora. . . uma paixão construída. Sou poetisa. . . uma profissão de fé. Sou de câncer. Gosto de filmes antigos. De acordar tarde. Café forte e quente. Sempre lembro do beijo de minha mãe. Adoro conhecer pessoas. Tenho grandes amigos(as), conheço e convivo com pessoas maravilhosas. Adoro ouvir João Gilberto e ler Drummond. Adoro ouvir Chet Baker e ler Bandeira. Sou uma pessoa inteira, intensa e isto é minha delícia/meu inferno.
Cometo "heresias". Tenho saudade do Deus da minha infância e vou visitá-lo para me certificar que estou viva e pulso. Sou difícil ( talvez impossível) de definir. Nasci em 1968: o ano que não terminou.
O título "Se eu fosse eu" é uma homenagem a Clarice Lispector.